Poemas de George Nina ELIAN, da Romênia

George
O poeta, tradutor, jornalista e ensaísta romeno George Nina Elian (Foto Divulgação)

SEQÜÊNCIA

Mulher,

quanta partida há
no teu andar!

A  RUA

deserta e úmida no vesperal novembro
a rua cheirava
a amarelos rostos de santos

DEFINIÇÃO

o resultado
do contato sexual
entre uma cabeça de homo sapiens e uma guilhotina
é chamado
história

O  TEMPO,  COMO  TEUS  PASSOS

o tempo
de repente
pa-
ran-
do

como teus passos
no final
da expectativa

MEMÓRIA

a noite caía sobre nós
pesada
como a alma de um suicídio

AUTO-RETRATO

aqui estou eu:

um rosto
sem pensamentos
e branco

como a amnésia

MAIS  SOLITÁRIO

mais solitário do que o ponto
no fundo
da página branca,

eu —

a carne viva
do
medo…

7.

estou vazando (quase
como no transe),

então
caio.

sou a ultima
(de quém?)
gota de sangue…

SENTENÇA

a poesia é um sono branco
ao qual lhe sobrevives
morrendo

LINHA  DE  CHEGADA

já não tenho medo de nada:

em volta de mim é a escuridão mais viva,
a solidão mais espaçosa…

Senhor,
faça-se a Tua vontade!

AUTO-RETRATO  NO  ESPELHO  DE  UM  ECO

sou o irmão morto
que me chama
da minha outra vida

ARS  A-POETICA

a poesia é a soma das memórias que
um paciente com a doença de Alzheimer
ainda tem sobre sua própria vida

SEM  ALTERNATIVA

um poeta só pode
morrer
por implosão

CÍRCULO

no lugar
onde os outros saíram
eu

vou voltar

FLASH

teus joelhos na semi-obscuridade do quarto
emergindo da saia insidiosamente
como duas luas gêmeas das velas de água:

me assombra (ou sou eu mesmo)
uma eterna noite de verão
___________________________________________

       George  Nina  ELIAN  (o nome real:  Costel  DREJOI)  nasceu em 13 de novembro de 1964 na cidade do Slatina (Romênia). Poeta, tradutor, jornalista, ensaísta.
Autor dos livros:  LUMINA  CA  SINGURĂTATE/  A  LUZ  COMO  SOLIDÃO  (poemas) — 2013;  TOAMNA,  CÂND  VINE  SFÂRŞITUL  LUMII…/  NO  OUTONO,  QUANDO  CHEGA  O  FIM  DO  MUNDO… (microensaios poéticos e outros textos) — 2014;  “NU  PRIN  VIAȚĂ,  CI  PRIN  MOARTE  AM  TRECUT!…” (cinci mărturii din temnițele comuniste)/  “NÃO  PELA  VIDA,  MAS  PELA  MORTE  NÓS  PASSAMOS…”  (cinco testemunhos de prisões comunistas) — 2016; LUMINA  CA  SINGURĂTATE.  Secvențial  2:  NINSOAREA  SE  ÎNTORSESE  ÎN  CER…/  A  LUZ  COMO  SOLIDÃO.  Sequencial  2:  A  NEVE  HAVIA  VOLTADO  AO  CÉU…  (poemas) — 2016;  TOAMNA,  CÂND  VINE  SFÂRŞITUL  LUMII…/  NO  OUTONO,  QUANDO  CHEGA  O  FIM  DO  MUNDO…  (microensaios poéticos e outros textos), segunda edição, revisada e adicionada — 2017;  LUMINA  CA  SINGURĂTATE.  Secvențial  3:  FERICIREA  DIN  VECINĂTATEA  MORȚII/  A  LUZ  COMO  SOLIDÃO.  Sequencial  3:  A  FELICIDADE  NA  PROXIMIDADE  DA  MORTE  (poemas) — 2018;  TOAMNA,  CÂND  VINE  SFÂRŞITUL  LUMII…/  NO  OUTONO,  QUANDO  CHEGA  O  FIM  DO  MUNDO… (microensaios poéticos e outros textos), terceira edição, revisada e adicionada — 2019.
Traduções:  Silvina  Vuckovic,  A  IUBI  ŞI  A  DĂRUI  SUFLET/  AMAR  E  DAR  ALMA  —  poemas (título original:  AMAR  Y  ALMAR) — 2015;   Alejandra  Pizarnik,  DRUMURILE  DIN  OGLINDĂ/  CAMINHOS  DO  ESPELHO  —  poemas (título original:  CAMINOS  DEL  ESPEJO) — 2016 (volume não publicado por motivos de direitos autorais);  Cleopatra  Lorințiu,  PEISAJUL  DIN  CARE  LIPSESC/  EL  PAISAJE  EN  EL  QUE  FALTO  (A  PAISAGEM  DA  QUAL  FALTO)  —  poemas, edição bilíngüe romeno-espanhola;  Maria  Grazia  Insinga,  ETCETERA  —  poemas, edição bilíngüe italiano-romena (em andamento).
Colaborou na composição da antologia  EL  CANON  ABIERTO.  ÚLTIMA  POESÍA  EN  ESPAÑOL  (1970-1985),  publicada em 2015 pela Visor Libros, sob a égide da Associação Coletiva dos Escritores da Andaluzia.
Publicou e publica nas revistas culturais romenas traduções da poesia italiana e sérvia, bem como da poesia de língua espanhola, portuguesa e inglesa contemporânea.

Deixe um comentário