SEQÜÊNCIA
Mulher,
quanta partida há
no teu andar!
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A RUA
deserta e úmida no vesperal novembro
a rua cheirava
a amarelos rostos de santos
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DEFINIÇÃO
o resultado
do contato sexual
entre uma cabeça de homo sapiens e uma guilhotina
é chamado
história
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O TEMPO, COMO TEUS PASSOS
o tempo
de repente
pa-
ran-
do
como teus passos
no final
da expectativa
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MEMÓRIA
a noite caía sobre nós
pesada
como a alma de um suicídio
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AUTO-RETRATO
aqui estou eu:
um rosto
sem pensamentos
e branco
como a amnésia
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MAIS SOLITÁRIO
mais solitário do que o ponto
no fundo
da página branca,
eu —
a carne viva
do
medo…
●
7.
estou vazando (quase
como no transe),
então
caio.
sou a ultima
(de quém?)
gota de sangue…
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SENTENÇA
a poesia é um sono branco
ao qual lhe sobrevives
morrendo
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LINHA DE CHEGADA
já não tenho medo de nada:
em volta de mim é a escuridão mais viva,
a solidão mais espaçosa…
Senhor,
faça-se a Tua vontade!
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AUTO-RETRATO NO ESPELHO DE UM ECO
sou o irmão morto
que me chama
da minha outra vida
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ARS A-POETICA
a poesia é a soma das memórias que
um paciente com a doença de Alzheimer
ainda tem sobre sua própria vida
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SEM ALTERNATIVA
um poeta só pode
morrer
por implosão
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CÍRCULO
no lugar
onde os outros saíram
eu
só
vou voltar
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FLASH
teus joelhos na semi-obscuridade do quarto
emergindo da saia insidiosamente
como duas luas gêmeas das velas de água:
me assombra (ou sou eu mesmo)
uma eterna noite de verão
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George Nina ELIAN (o nome real: Costel DREJOI) nasceu em 13 de novembro de 1964 na cidade do Slatina (Romênia). Poeta, tradutor, jornalista, ensaísta.
Autor dos livros: LUMINA CA SINGURĂTATE/ A LUZ COMO SOLIDÃO (poemas) — 2013; TOAMNA, CÂND VINE SFÂRŞITUL LUMII…/ NO OUTONO, QUANDO CHEGA O FIM DO MUNDO… (microensaios poéticos e outros textos) — 2014; “NU PRIN VIAȚĂ, CI PRIN MOARTE AM TRECUT!…” (cinci mărturii din temnițele comuniste)/ “NÃO PELA VIDA, MAS PELA MORTE NÓS PASSAMOS…” (cinco testemunhos de prisões comunistas) — 2016; LUMINA CA SINGURĂTATE. Secvențial 2: NINSOAREA SE ÎNTORSESE ÎN CER…/ A LUZ COMO SOLIDÃO. Sequencial 2: A NEVE HAVIA VOLTADO AO CÉU… (poemas) — 2016; TOAMNA, CÂND VINE SFÂRŞITUL LUMII…/ NO OUTONO, QUANDO CHEGA O FIM DO MUNDO… (microensaios poéticos e outros textos), segunda edição, revisada e adicionada — 2017; LUMINA CA SINGURĂTATE. Secvențial 3: FERICIREA DIN VECINĂTATEA MORȚII/ A LUZ COMO SOLIDÃO. Sequencial 3: A FELICIDADE NA PROXIMIDADE DA MORTE (poemas) — 2018; TOAMNA, CÂND VINE SFÂRŞITUL LUMII…/ NO OUTONO, QUANDO CHEGA O FIM DO MUNDO… (microensaios poéticos e outros textos), terceira edição, revisada e adicionada — 2019.
Traduções: Silvina Vuckovic, A IUBI ŞI A DĂRUI SUFLET/ AMAR E DAR ALMA — poemas (título original: AMAR Y ALMAR) — 2015; Alejandra Pizarnik, DRUMURILE DIN OGLINDĂ/ CAMINHOS DO ESPELHO — poemas (título original: CAMINOS DEL ESPEJO) — 2016 (volume não publicado por motivos de direitos autorais); Cleopatra Lorințiu, PEISAJUL DIN CARE LIPSESC/ EL PAISAJE EN EL QUE FALTO (A PAISAGEM DA QUAL FALTO) — poemas, edição bilíngüe romeno-espanhola; Maria Grazia Insinga, ETCETERA — poemas, edição bilíngüe italiano-romena (em andamento).
Colaborou na composição da antologia EL CANON ABIERTO. ÚLTIMA POESÍA EN ESPAÑOL (1970-1985), publicada em 2015 pela Visor Libros, sob a égide da Associação Coletiva dos Escritores da Andaluzia.
Publicou e publica nas revistas culturais romenas traduções da poesia italiana e sérvia, bem como da poesia de língua espanhola, portuguesa e inglesa contemporânea.